Se num primeiro momento tudo parecia andar tão devagar (quando será que isso vai passar?), agora sinto a mudança e a aceleração. Pedrinho faz novas descobertas a cada dia. Olhamos as fotos dos primeiros meses e nos apavoramos, como ele cresceu! cadê nosso bebezinho? Ele já rola sozinho, busca e agarra os brinquedos, dá chutes super fortes, experimenta todos os gostos possíveis e faz caretas, firma a cabeça e olha para os lados. A cada dia interage e entende mais. Ultimamente eu tenho pensado muito em como vai ser difícil quando eu tiver de voltar a trabalhar. Andei lendo muitas coisas por aí, depoimentos de mães, e acho que é difícil para todas nós, para algumas, mais, para outras, menos, mas sempre difícil. Como a mãe que eu vi no Posto de Saúde ontem, saindo com a sua bebezinha de uma semana, às lágrimas, porque teve que deixar a coisa mais preciosa da sua vida ser picada e sentir dor.
Pensar que vou ficar longe do Pedrinho por umas sete horas, que não vou estar perto quando ele chorar porque quer um colinho, um mamazinho. Que não vou ser eu a testemunha da sua mais nova descoberta diária. Já estou chorando só de imaginar. Ao mesmo tempo, parar de trabalhar para ser só mãe não é uma opção existencial ponderável. Eu me preparei a vida inteira para ser uma profissional, ganhar o meu dinheiro, fazer meu trabalho com competência. Sempre admirei minha mãe por ser uma arquiteta fantástica, além de ter três filhas. Mas toda essa construção cultural sobre o trabalho da mulher acaba nos tirando algo muito valioso que é poder cuidar da nossa família e dos nossos filhos com todo o cuidado que gostariamos. Para assumir esse papel profissional, valorizado na sociedade, temos de abrir mão de coisas que vão nos tirando pedaços. E tercerizamos parte do cuidado, que deveria (?) ser nosso. Se até para arrumarem a minha casa eu me sinto meio estranha, porque não sou eu que estou cuidando disso, imagina quando tiver que terceirizar o cuidado com meu filho. Mas, enfim, mais um aprendizado de a vida como ela é e não como eu gostaria que ela fosse. Enquanto eu quiser manter a casa limpa, as coisas em ordem, o filho debaixo da asa, o casamento em perfeita harmonia, o trabalho eficiente e bem feito, os exercícios em dia e ainda arranjar tempo para ficar linda e maravilhosa, vou ficar louca, como uma equilibrista, com mil pratos, a perigo de todos caírem ao mesmo tempo. Eu sei disso, mas devo confessar que ainda tento. Quando me dou conto, lá estou eu, querendo dar conta de tudo. Lembro do Lama Samtem falando desse equilibrista, como muitos de nós só se sentem vivos quando estão equilibrando os pratos. Mas o que é o equilíbrio senão a sensação de que controlamos alguma coisa? A verdade é que não temos controle, não temos o mínimo controle - no máximo, uma sensação de controle. A porta sempre pode bater e derrubar tudo com o vento da impermanência, e aí, o que vamos fazer com nossos caquinhos despedaçados? Acredito que a sabedoria está em ir lidando com as coisas na medida em que elas surgem, da melhor forma possível, sem controle e sem culpa, porque isso é viver. Qualquer tentativa de escapar da impermanência e de manter o controle é só garantia certa de sofrimento, instantâneo ou futuro.
Então reformulo minha questão. Vai ser difícil deixar o Pedro na escola sim, mas também seria difícil ficar só em casa cuidando dele, anulando todas as possibilidades existenciais que forjei até agora. Não tem escapatória, sabe, tipo um caminho totalmente perfeito e indolor, no sentido usual. E há um aprendizado nisso, no fato de que o filho não é só meu, é também do mundo, que não sou só eu sua fonte de amor, conforto e segurança. Que bom que tem outras pessoas que também podem oferecer isso. Que nada está garantido, pois mesmo se eu pudesse fazer todas as coisas que gostaria, ainda estaria sem o controle e navegando na Sra. Impermanência e na Sra. Imprevisibilidade. Só me resta viver dentro do que é possível. Então é isso, que venha 2011, mais uma vez, quero dizer sim à vida.
"E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins"
ResponderExcluir(de uma crônica do Caio Fernando Abreu, mas roubado do James Joyce, da última frase do Ulisses)
(lindo querida)
Lindo Sabrina, adorei o texto... vou acompanhar de longe as aventuras do Pedrinho! Estou louca pra conhecer ele!!! Em marco vou estar ai em Porto alegre!! Beijos, saudades...
ResponderExcluirDifícil e inevitável... A vida e os filhos andam... Ótimo texto Sá.
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